um momento menos bom

Ter filhos aos vinte e poucos anos, pode ser a melhor coisa do mundo, mas também a pior. Somos dos primeiros a ter filhos nos grupos de amigos. Quando as prioridades são saídas, encontros, arranjar trabalho, iniciar relações e etc, passamos a ter presente diariamente questões como, cuidar de um bebe, que nada falte aquele ser que depende de nós a 100%, completamente dependente, completamente nosso. Aprendemos a lidar com os nossos limites. Traz-nos uma felicidade extrema e ao mesmo tempo uma tristeza, gostaríamos por vezes de não pensar no amanhã, no daqui a duas horas e poder levar um pouco de brincadeira, sair, beber uns copos e deitar conversa fora. As conversas em casa passam a ser na sua totalidade acerca do bebe, a que horas comeu, a que hora afez coco, disse a primeira palavra, tem febre? Vacinas para levar? Que nos esquecemos que somos nós mesmos independentemente do resto. Há dias em que chegamos do trabalho e só queremos silêncio, outros em que chega ao final do dia e apenas nos apetece uma cerveja e uma conversa, o bebe chora, grita , esperneia ou está ansioso pela chegada do pai e da mãe, e quando nos vê só quer brincar, sorrir... Enche qualquer coração ver a felicidade estampada por nos ver chegar... Mas também nos trancamos na casa de banho a chorar... Pensamos que 24h não chegam para sermos mães, trabalhadoras, donas de casa... Queríamos 48h... Mas também não iriam chegar. Pensamos no quanto por momentos queríamos ser aquele tipo de mãe que entrega os filhos as babas e tem tempo para tudo... Mas rapidamente nos envergonhamos do que pensamos e pegamos nos bebes e enchemos de carinho, como se nos sentíssemos culpadas pelo pensamento horrível que tivemos... Há dias em que nos apetece ligar para aquela amiga... um dia amiga, com quem já não falamos há treculos, mas também não ligamos, ligamos mais tarde e o mais tarde nunca chega... Agradecemos por ainda terem sobrado uns poucos amigos daquela lista enorme que pensávamos ter... Agradecemos por esses poucos que permanecem ainda quererem fazer parte da nossa nova realidade, independentemente do quão difícil possa parecer para nos. Existem momentos em que parece que batemos no buraco... Sentimo-nos sós, sentimos que afinal custa a todos os níveis, estávamos preparadas para as noites mal dormidas, as súbitas responsabilidades, mas será que algum dia estamos preparados para nos sentirmos tão só? A mim ninguém me avisou, chega a ser triste estar presente apenas em datas certas, chega a ser triste querermos fazer parte de alguma coisa que um dia fizemos e pura e simplesmente não conseguimos ter tempo para isso... Chega a ser triste ver que lentamente as pessoas se vão afastando e que já não fazemos parte do speed dial... e que pelo andar da carruagem não iremos fazer da lista de contactos assim que algum de nós trocar de telefone... por vezes , a maior parte das vezes temos saudades... Só nos resta agradecer do fundo do coração aqueles que ficaram... 

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