A conta certa
Uma segunda
gravidez tao em cima de outra faz-nos pensar e repensar. Gravidez de risco,
repouso absoluto em casa, de cama com uma criatura com um ano a passear e a
solicitar atenção 24-24. Talvez, o repouso fosse mesmo ter ido para o escritório,
e aí quem sabe a criatura mais nova não teria nascido tao cedo. Quando estamos
grávidas ou a pensar em filhos, nunca nos passa pela cabeça que os nossos
rebentos possam nascer com algum tipo de problema ou patologia, mas muitas
vezes, durante o parto surgem descobertas que nos podem deixar sem rumo, por
momentos, ou pelo menos até de procurar ajuda médica e fazer os testes necessários.
Recordo o meu primeiro parto com alguma angústia, a gravidez tinha corrido
relativamente bem, umas contrações aqui e ali, uma perda de tampão mucoso
precoce, mas sem grandes dificuldades. A criatura nasce ás 38 semanas,
cesariana programada pois, além de tudo, tinha que ser preguiçosa e resolveu
que não virava, começam as questões médicas, os nomes técnicos, os medos e
angustias, as procuras eternas por informações sobre a patologia. Pois bem, no
final nas contas uma patologia não confirmada, com alguns indícios e sob vigia…
hoje com 15 meses a criatura está óptima, e a nós restou-nos os inúmeros cabelos
brancos ganhos, toda a informação que adquirimos através da procura incansável de
soluções, uns tostões a menos no banco (com tantos exames), e claro uma
felicidade extrema por não ter sido necessário recorrer a operações para correção,
daquilo que era o temeroso diagnostico. Uma má formação do crânio, com
fechamento precoce da fontanela, que poderia resultar numa data de situações para
as quais nos estávamos a preparar psicologicamente para enfrentar. Pois bem, no
meio deste problemão em mão, estava eu, gravida do segundo rebento. Escusado será
dizer… gravidez de risco com direito a estar de cama no último mês. O rebento
nasceu às 35 semanas, com alguns problemas a nível de oxigenação, mas coisas
menores. Um parto particularmente assustador com direito a ter 3 médicos
literalmente em cima de mim a fazerem forca para o rebento escorregar uma vez
que sem líquido a situação estava complicada. Foram alguns minutos em que
pensei que a mesa de operações cairia comigo em cima dela, toda aberta ao Deus dará…
foram 24 horas sem ver o pequeno, cuidados intensivos, mais ansiedade, mais
angustia. Pois bem, o rebento lá teve a esperada alta e os problemas não se
ficaram por ai. Faz amanha dois meses, que não durmo mais de 30 min seguidos, 2
meses em que 24 horas parecem 48… 2 meses sem qualquer tipo descanso. A princesa
(criatura mais velha) cada vez mais necessita de atenção, fez esta semana 15
meses. Pois bem, estaremos preparados para ser pais, mas estaremos preparados
para esta angústia constante? Não me tinha ainda refeito do primeiro susto, já veio
o segundo. Ser mae/pai, é uma preocupação constante. Estamos preparados para
noites mal dormidas, mas não estamos preparados para passar por vezes 72 horas
sem dormir. São constante testes e provas pelas quais temos que passar que nos
provam que os limites não foram feitos a pensar nos pais. São noites inteiras
em branco, são manhas agitadas com uma princesa que quer andar, colo, brincar, são
tardes inteiras em formato de cansaço extremo em que rezamos a todos os santos
para a criatura querer ver 1 hora de televisão… sim TELEVISÃO, cruxifiquem-me! Mas
por vezes ter a princesa 1 hora seguida sentada a ver televisão, é 1 hora que
tenho apenas que andar com 1 ao colo… realmente há coisas para as quais a preparação
não existe. Levantamos as mangas e siga! O caminho é para a frente. Não há mas,
nem meio mas, se dá trabalho? Claro que dá! Mas existe algo por trás de tudo
isto, o amor. Um amor infindável, um amor eterno e crescente a cada segundo. Se
por vezes por apetece trancar na casa de banho com musica aos altos berros? Claro
que sim, desligar do mundo. Mas depois a ficha cai, e desligar do mundo? O nosso
mundo são eles, as princesas e príncipes, são eles que nos fazem conhecer a
vida, são eles que dia após
dia nos ensinam que foram eles que nos ensinaram a
respirar… foi naquele instante em que os médicos os levam e os ouvimos chorar,
que nascemos. Quem somos nós sem os filhos? Somos espaços em branco, somos
folhas brancas, somos ignorantes…. Somos as pessoas mais cansadas, mas mais
felizes, mais cheias de amor. E é por estas e por outras que quando 1+1 na
minha conta deu 4… são contas erradas? São contas de amor.
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